Não me lembro exatamente quando tudo começou, mas a memória daquele momento está vívida em minha mente. Estava caminhando por uma rua quando um pensamento súbito me ocorreu: “E se eu pudesse trabalhar meus problemas e preocupações antecipadamente; Sem necessariamente estar sentado, escrevendo ou lendo? E se pudesse simplesmente ruminar na minha cabeça?”
Naquele instante, achei a ideia brilhante. Passei a dedicar cada momento livre para pensar sobre os problemas da minha vida, tentando resolvê-los mentalmente em momentos que, na verdade, deveriam ser de descanso ou lazer. Hoje, entendo que essa decisão não foi a mais sábia.
Essa prática me levou a um estado constante de ansiedade e estresse. Meu corpo, uma incrível máquina biológica, começou a produzir o que eu inconscientemente comandava: tensão, contração muscular e uma constante sensação de inquietude. Tudo em nome de uma suposta produtividade, mesmo em momentos que deveriam ser de relaxamento.
Durante muito tempo, sofri com problemas somáticos. Como alguém com altas habilidades, me via como um carro de Fórmula 1 sendo dirigido por um piloto inexperiente, sempre à beira de um acidente.
Já havia pesquisado sobre meditação antes, mas sempre a descartei como algo improdutivo. No entanto, decidi colocar à prova. Comecei a praticar nas situações mais improváveis: caminhando por uma avenida movimentada do Rio de Janeiro, em meio ao caos urbano.
No início, conseguia manter o foco na respiração por apenas alguns segundos. Mas persisti. Dia após dia, no trajeto do metrô ao trabalho, tentava meditar. Gradualmente, comecei a notar mudanças. De repente, me vi experimentando momentos de clareza mental que me lembravam a despreocupação da infância.
Logo, já não queria limitar a meditação apenas ao trajeto do trabalho. Comecei a praticar em casa, sentado ou deitado. O tempo de prática aumentou, e 40 minutos passaram a parecer pouco. Foi quando me deparei com o conselho de um monge: não adianta meditar por longos períodos se passamos o resto do dia nos distraindo.
Entendi então que o objetivo não era meditar por horas a fio, mas integrar a prática ao cotidiano. Passei a meditar em pequenos momentos: ao lavar as mãos, escovar os dentes, ao me mover durante o dia. A meta era estar presente em cada ação.
Meu contato com Vipassana veio através de uma naturóloga que mencionou um retiro de 10 dias no Rio de Janeiro. Sem pesquisar muito, decidi experimentar. Foram dias intensos de silêncio e prática, começando às 4h da manhã e terminando à noite.
Saí do retiro transformado, não apenas em minhas capacidades mentais, mas em minha visão de vida. Aprendi que a verdadeira prática não se limita a momentos de meditação formal, mas se estende a cada instante do dia, a cada momento e principalmente as sensações sutis que me passavam desapercebido.
Hoje, integro a meditação em todos os aspectos da minha vida. Seja andando, estudando, trabalhando ou lidando com pensamentos acelerados, sempre encontro um momento na hora em que percebo para me conectar com minha respiração e sensações corporais.
Acredito que tudo é uma jornada de melhoria diária. Como mostro no "Jornada 1% ao dia", me esforço para melhorar um pouco a cada dia. Com o tempo, esse crescimento diário se acumula, levando a uma transformação exponencial.
A meditação e o Vipassana me ensinaram que, com prática constante e dedicação, podemos nos tornar versões melhores de nós mesmos, capazes de realizações que antes pareciam impossíveis. É uma jornada de autodescobrimento e crescimento que, espero, continuará pelos próximos 100 anos ou mais da minha vida.
Por Rafael Barros